YouTube Shopping, TikTok Shop e a cadeia de valor de marcas, criadores e consumidores

Marketing

26 de novembro de 2025

YouTube Shopping, TikTok Shop e a cadeia de valor de marcas, criadores e consumidores

Convergência entre conteúdo e comércio nas redes sociais está redesenhando o consumo

A convergência entre conteúdo e comércio é um tema novo, sobre o qual já tenho falado algumas vezes por aqui. O fato é que essa dupla (compras + entretenimento) está redesenhando a forma como as pessoas consomem. Nos últimos anos, plataformas de vídeo como YouTube e TikTok deixaram de ser espaços dedicados exclusivamente ao entretenimento ou à educação informal para se tornarem um ambiente de transações comerciais.

A expansão do social commerce, modelo em que a jornada de compra acontece dentro das redes sociais, representa um avanço que altera não somente a jornada do consumidor, mas também o papel das marcas, o modelo de monetização dos criadores de conteúdo e a própria organização do varejo digital. Não podemos negar que estamos diante de uma revolução comercial.

A chegada do YouTube Shopping ao Brasil, em parceria com Mercado Livre e Shopee, e a consolidação do TikTok Shop em 2025 reforçam esse cenário. Ambas as iniciativas permitem que produtos sejam marcados em vídeos, transmissões ao vivo e shorts (no caso do Youtube), de forma que a compra se complete sem que o usuário deixe o conteúdo. Essa integração transforma o vídeo numa vitrine com recomendação, avaliação e ponto de venda. O consumo se torna simultâneo à experiência do conteúdo, diminuindo limites entre descobrir e adquirir.

Para compreender o peso desse fenômeno, é necessário observar o contexto brasileiro. O país permanece entre os maiores consumidores de redes sociais e de vídeos do mundo. Segundo o levantamento Digital 2025: Brasil, o YouTube alcança 144 milhões de usuários mensais no Brasil. Já o TikTok segue em ritmo acelerado de crescimento, especialmente entre jovens adultos e pequenos negócios, que utilizam a plataforma como motor de visibilidade e vendas. O mesmo relatório aponta 91,7 milhões de usuários brasileiros no TikTok.

Aos fatores culturais somam-se características estruturais: alta penetração de smartphones, maturidade dos marketplaces e predisposição histórica à influência como vetor de decisão de compra. O social commerce encontra nesse cenário uma combinação singular de escala, atenção e comportamento.

O amadurecimento desse ecossistema revela duas lógicas complementares. O TikTok Shop atua com força no território da descoberta algorítmica. Os ciclos são rápidos. A compra tende a estar conectada à emoção, ao humor, ao teste espontâneo e à performance do criador. Tendências, demonstrativos e lives estruturam um ambiente em que desejo e compra se aproximam no tempo. Já o YouTube Shopping opera em outra camada da jornada. Vídeos longos, tutoriais, unboxings e reviews aprofundam entendimento, reduzem incertezas e constroem confiança antes da decisão. A aliança com marketplaces acelera a integração tecnológica e coloca a plataforma como um elo entre busca, conteúdo e transação. As plataformas estão entendendo muito bem a força dos criadores de conteúdo diante da audiência.

Essas transformações afetam diretamente as marcas. A primeira mudança ocorre no funil de vendas, que deixa de ser linear. A sequência conhecer, considerar e comprar passa a ocorrer dentro de uma mesma experiência. O custo de aquisição de clientes tende a diminuir quando o criador já concentra uma comunidade alinhada à solução oferecida. A comunicação passa a depender de conteúdos contínuos, mais educativos e menos centrados em campanhas isoladas e propagandas pontuais.

Além disso, a integração entre operações de marketing, tecnologia e logística torna-se indispensável. O social commerce gera picos de demanda durante transmissões ao vivo e exige atualização de estoque em tempo real, prazos de entrega competitivos e gerenciamento automatizado. A lógica deixa de ser apenas digital e passa a ser também operacional. É o comércio puro acontecendo.

O comportamento do consumidor também se transforma. A compra se torna contextualizada e imediata. O usuário não precisa mais abrir abas, copiar links ou buscar o produto posteriormente. A mesma plataforma em que ouviu recomendações e observou o uso se converte em canal de finalização. O processo reduz fricções e tende a aumentar a conversão. A confiança se desloca de instituições corporativas para indivíduos e comunidades. Isso muda muita coisa no processo de consumo. A figura do criador funciona como mediadora da decisão, reduzindo assimetrias de informação e ampliando o senso de segurança na compra.

Para os criadores de conteúdo, o impacto é significativo. A possibilidade de monetização se expande para além de anúncios e parcerias publicitárias. O criador se aproxima do papel de parceiro comercial e torna-se um agente da venda. Esse movimento fortalece uma camada da economia criativa que tem crescido nos últimos anos: pequenos e médios criadores que convertem pela confiança e afinidade temática, e não apenas pelo alcance. A exigência por métricas mais precisas e indicadores de conversão também tende a valorizar narrativas mais técnicas, demonstrativas e educativas, além dos formatos tradicionais de influência.

Essas mudanças pressionam o varejo a reestruturar sua cadeia de operações e suas estratégias. O social commerce intensifica a importância de sistemas integrados. Plataformas de estoque precisam dialogar com marketplaces e plataformas de conteúdo. O varejo brasileiro avança para um ambiente “figital”, ou seja, a fusão permanente entre o físico e o digital. A loja deixa de ser um lugar e se torna um fluxo.

À medida que a convergência entre vídeo e comércio se consolida, torna-se evidente que plataformas de social commerce não são apenas extensões de marketing, mas parte da infraestrutura de vendas. O conteúdo passa a participar da cadeia de geração de valor e da lógica de apresentação de produtos. A presença de criadores, antes vista como comunicação, se converte em um elo estratégico entre decisão de compra e experiência de marca.

A combinação entre YouTube Shopping e TikTok Shop abre caminho para um modelo híbrido em que descoberta e profundidade operam em conjunto. Indica também uma mudança cultural mais ampla. O consumidor brasileiro se identifica com narrativas pessoais, comunidades digitais e recomendações informadas. As marcas que desejarem se manter competitivas precisarão integrar canais, investir em conteúdo baseado em contexto e estabelecer relações consistentes com criadores.

A tendência é que essa nova fase do social commerce aproxime empresas, criadores e consumidores em um mesmo ambiente operacional. A experiência deixa de ser segmentada e se torna contínua. As compras passam a refletir não apenas necessidades, mas também pertencimento, estilo de vida e interpretação coletiva de valor. O fenômeno não representa uma mudança estética, e sim funcional. Comerciantes e marcas que reconhecem essa transição e reorganizam sua lógica de vendas tendem a ocupar um espaço privilegiado no cenário competitivo dos próximos anos.

A transformação em curso redefine o papel das plataformas digitais e inaugura uma nova geração de consumo, guiado por conteúdo, dados e comunidades. A evolução do varejo no Brasil passa, inevitavelmente, pelo social commerce e pelos criadores como agentes fundamentais desse processo.

Quem publicou esta coluna

Silmara Regina de Souza

Mestre em Administração, consultora pelo Sebrae SP. Palestrante, conteudista, especialista em marketing e comunicação digital. Entusiasta da produção de conteúdo e do uso estratégico das redes sociais como canais de relacionamento e comunicação.

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