Gestão pública moderna: transparência, tecnologia e eficiência

Gestão Pública

Inovação

18 de setembro de 2025

Gestão pública moderna: transparência, tecnologia e eficiência

Ferramentas digitais proporcionam dados em tempo real, indicadores de desempenho e canais de comunicação ágeis e inclusivos

O compromisso com a transparência aperfeiçoa a gestão pública e fortalece os pilares democráticos, de maneira a assegurar que o Estado cumpra sua missão primordial: servir ao cidadão com qualidade, eficiência e justiça social.         

 A utilização das informações, quando realizada de forma clara e acessível, permite que a sociedade acompanhe a aplicação dos recursos públicos e participe ativamente do processo decisório, consolidando um ambiente de confiança e corresponsabilidade entre governo e população.

Nesse contexto, a tecnologia se apresenta como aliada estratégica. Ferramentas digitais possibilitam a disponibilização de dados em tempo real, o acompanhamento de indicadores de desempenho e a implementação de canais de comunicação mais ágeis e inclusivos. Portais de transparência, aplicativos móveis e sistemas de gestão integrados ampliam o acesso à informação, fortalecem o controle social e estimulam a participação cidadã.

A transformação digital no setor público é impulsionada por tecnologias digitais, automação de processos e inteligência de dados, permitindo diagnósticos precisos e decisões bem fundamentadas. Por meio dessas soluções, gestores podem antecipar problemas, planejar políticas públicas de maneira mais eficiente e oferecer serviços personalizados, adaptados às necessidades específicas de cada região ou segmento da população.

Iniciativas como o Gov.br, que reúne serviços digitais em um único portal, ou o Meu INSS, que permite agendamento e acompanhamento de benefícios previdenciários sem necessidade de deslocamento, representam avanços significativos. No âmbito estadual, destacam-se o Poupatempo Digital em São Paulo e o Detran Digital em vários estados, que oferecem renovação de documentos, consultas e agendamentos totalmente on-line. Já em nível municipal, plataformas como o SP156, em São Paulo, e o 156 Rio, no Rio de Janeiro, permitem que o cidadão registre demandas, solicite serviços urbanos e acompanhe o andamento em tempo real.

Esses exemplos demonstram que a tecnologia, quando bem aplicada, não é apenas uma ferramenta de eficiência, mas também um mecanismo de aproximação entre governo e sociedade. O cidadão deixa de ser um mero destinatário de políticas públicas e passa a ser protagonista, acompanhando e influenciando a forma como os serviços são planejados e executados.

Complementarmente, novas abordagens vêm se consolidando como elementos essenciais para o aprimoramento da prestação dos serviços públicos. Entre elas, destacam-se o empreendedorismo governamental —conceito que traduz a incorporação de práticas inovadoras típicas do setor privado na gestão pública — a implantação de laboratórios de inovação governamental, o incentivo a parcerias público-privadas, a utilização de metodologias ágeis no desenvolvimento de projetos e a adoção de modelos colaborativos que buscam maior integração entre órgãos e esferas de governo.

No Brasil, destaca-se o Laboratório de Inovação em Governo (GNova/ENAP), que utiliza metodologias de design thinking para desenvolver soluções centradas no cidadão, já aplicadas em áreas como saúde, educação e simplificação regulatória.

A implantação de laboratórios de inovação governamental também se disseminou em administrações locais: a Prefeitura de São Paulo criou o MobiLab+, voltado para mobilidade urbana e uso de dados abertos, que já resultou em aplicativos para monitorar ônibus em tempo real e estimular startups de transporte.

Metodologias ágeis

Na utilização de metodologias ágeis, experiências internacionais como o MindLab da Dinamarca e o Policy Lab do Reino Unido servem de referência. Esses modelos demonstram que é possível repensar processos governamentais de forma mais dinâmica, colaborativa e adaptada às rápidas mudanças sociais e tecnológicas.

No Brasil, a Secretaria de Governo Digital do Ministério da Gestão tem adotado práticas ágeis no desenvolvimento de serviços dentro do já citado Gov.br, o que acelerou a digitalização e simplificação de processos burocráticos. Esse movimento demonstra que, mesmo em estruturas complexas e tradicionais, é viável implantar mecanismos de inovação capazes de gerar resultados concretos em benefício da população.

Por fim, é essencial reconhecer que a transparência e a tecnologia, embora fundamentais, não são suficientes por si só. O papel ativo do cidadão é indispensável para consolidar uma gestão pública moderna, eficiente e democrática. O controle social, exercido por meio do acompanhamento dos gastos, da fiscalização das políticas e da proposição de melhorias, fortalece o elo entre Estado e sociedade.

Dentre os mecanismos de participação cidadã, destacam-se as audiências e consultas públicas, que permitem o debate aberto sobre propostas de lei e projetos governamentais; os conselhos de políticas públicas, como os de saúde, educação e assistência social, que reúnem representantes do governo e da sociedade para deliberar sobre prioridades e avaliar resultados; e os movimentos sociais e organizações da sociedade civil, que atuam na defesa de direitos, no monitoramento de políticas e na pressão por mais transparência e efetividade da gestão pública.

Desafios

Ainda que represente avanços significativos, a implantação de tecnologias digitais no setor público também traz riscos que precisam ser mitigados: a segurança da informação e os ciberataques, que podem expor dados sensíveis de cidadãos e órgãos públicos a vazamentos e manipulações, comprometendo a privacidade e a confiança social; a exclusão digital, já que parte da população — especialmente em áreas remotas ou em grupos vulneráveis — ainda enfrenta dificuldades de acesso à internet; e a resistência cultural interna.

Para reduzir esses riscos, algumas medidas se mostram indispensáveis: investir em segurança da informação, com protocolos robustos de cibersegurança, criptografia avançada e auditorias independentes; promover inclusão digital, ampliando a conectividade em áreas remotas e oferecendo programas de capacitação tecnológica para a população; e adotar uma gestão da mudança cultural, baseada em formações contínuas, incentivo à experimentação e valorização do servidor como agente ativo do processo de inovação.

Além disso, a ampliação do atendimento remoto, seja por meio de portais digitais, aplicativos ou centrais de relacionamento, contribui para a democratização do acesso aos serviços públicos, reduzindo desigualdades regionais e aumentando a conveniência para o cidadão. Essas inovações, quando aplicadas de forma planejada, inclusiva e sustentável, não apenas otimizam a estrutura administrativa, mas também promovem mais satisfação do usuário, que passa a perceber a administração como uma parceira efetiva na solução de suas necessidades cotidianas.

Uma administração pública realmente voltada ao futuro deve, portanto, combinar inovação tecnológica, responsabilidade ética e abertura ao diálogo social. A integração entre Estado e sociedade fortalece a confiança mútua e cria um ambiente em que soluções são construídas de forma colaborativa. Dessa maneira, torna-se possível desenvolver um modelo de governança que não apenas entregue serviços mais rápidos e acessíveis, mas que também promova mais justiça social, equidade e corresponsabilidade, consolidando uma democracia mais participativa e inclusiva.

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