Imagem Análise do impacto do Programa de Gestão de Desempenho (PGD) na produtividade do Executivo Federal

10 de dezembro de 2025

Análise do impacto do Programa de Gestão de Desempenho (PGD) na produtividade do Executivo Federal

Autor: Alberto de Campos e Silva — Orientador: Lucas Henrique de Souza

Resumo elaborado pela ferramenta ResumeAI, solução de inteligência artificial desenvolvida pelo Instituto Pecege voltada à síntese e redação.

Este trabalho usou Análise de Dados em Gestão de Pessoas para medir a produtividade do Programa de Gestão de Desempenho (PGD) no executivo federal e compará-la com a percepção dos gestores. Foram analisados servidores com e sem PGD, detalhando as modalidades de trabalho (presencial, parcial, remota) para mensurar o impacto da política, conforme Gertler et al. (2018). A produtividade medida foi confrontada com dados de questionários para comparar a eficácia percebida e a mensurada.

A gestão por desempenho evoluiu historicamente (Brandão e Guimarães, 2001), ganhando força no setor público nas últimas décadas. Estudos como os de McClelland e Dailey (1972) já exploravam a relação entre competências e desempenho. Heinrich (2002) cita o programa Job Training Partnership Act (JTPA) de 1982 nos EUA como um marco na gestão por resultados. No Brasil, o Decreto 5.707/2006 foi um precursor, instituindo a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal para alinhar desenvolvimento e performance. A gestão de competências, entendida como a capacidade de entrega do indivíduo, tornou-se um pilar da gestão de desempenho (Silva et al., 2015).

O Programa de Gestão de Desempenho (PGD) foi formalizado pela Instrução Normativa nº 1, de 31 de agosto de 2018, mas sua adoção foi acelerada pela pandemia de COVID-19 em 2020 para viabilizar o trabalho remoto. O PGD substitui o controle de frequência pelo foco em resultados e qualidade (Brasil, 2022). O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) recomenda sua implementação, o que reforça a necessidade de estudos que avaliem a eficiência de políticas públicas e seus custos e benefícios (Oliveira et al., 2024).

O PGD é um sistema de gestão que alinha estratégias organizacionais, entregas de unidades e planos de trabalho individuais, conectando a atividade do servidor aos objetivos da instituição (Oliveira et al., 2020). Apesar de sua importância, a literatura sobre seu impacto quantitativo é escassa, focando em percepções e revisões de literatura. Há uma confusão conceitual entre o PGD (ferramenta de gestão) e o trabalho remoto (modalidade de trabalho). A literatura aponta a preferência dos servidores pelo trabalho remoto por sua flexibilidade, mas também relata resistência da alta gestão e dificuldades no controle das equipes (Alves, 2024; Lima e Fajardo, 2022; Maranhão e Pantoja, 2024).

Um estudo que quantifica a eficácia do PGD em uma fundação pública federal fornece subsídios para o MGI e a alta gestão. A Análise de Dados em Gestão de Pessoas (HR Analytics) é a abordagem adequada, pois promove o alinhamento estratégico e a decisão baseada em evidências (Suri e Lakhanpal, 2024). Ao fornecer uma medida objetiva do impacto do PGD, esta pesquisa preenche uma lacuna na literatura e oferece um modelo metodológico para futuras avaliações de políticas de gestão no setor público.

A pesquisa é descritiva, buscando analisar as relações entre variáveis sem a interferência do pesquisador (Gil, 2025). Adotou-se uma abordagem mista, combinando dados quantitativos (produtividade) e qualitativos (questionários, entrevistas) coletados em paralelo (Creswell et al., 2021). O delineamento foi de Levantamento de Campo, focado na associação entre variáveis como modalidade de trabalho e produtividade, sem pretensão de causalidade. As técnicas de coleta foram questionários e levantamento de dados primários processados e analisados (Malhotra, 2019).

A metodologia foi dividida em três fases. A primeira aplicou questionários a todos os servidores e chefias para capturar a percepção sobre a eficácia do PGD. A participação voluntária (132 de 314 respondentes, taxa de 42%) introduziu um viés de seleção, focando o estudo na análise interna do órgão. A segunda fase, quantitativa, levantou a produtividade individual analisando 529.160 documentos do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) produzidos por 299 funcionários em 102 setores, entre 2023 e maio de 2025. A rotatividade de servidores no PGD, exigida pelo órgão, permitiu a criação natural de grupos de tratamento e controle, viabilizando uma avaliação de impacto robusta (Gertler et al., 2018).

A análise inicial dos dados do SEI mostrou grande heterogeneidade na produção de documentos entre setores, inviabilizando a comparação direta. Para resolver isso, os dados foram normalizados, transformando a produção de cada setor em uma escala padronizada onde a média mensal era igual a um. Isso permitiu que o modelo de regressão linear medisse o impacto do PGD em termos percentuais. O modelo de Mínimos Quadrados Ordinários (OLS) foi empregado para estimar os coeficientes de cada modalidade de PGD (presencial, parcial, remoto) em comparação com o grupo de controle (sem PGD).

A terceira fase, qualitativa e exploratória, investigou pontos de inflexão na série temporal da produtividade. Foram realizadas duas entrevistas livres e não estruturadas com gestores-chave (a responsável pelo setor de PGD e uma coordenadora técnica) para levantar hipóteses sobre fatores externos, como mudanças normativas, que pudessem ter influenciado a produtividade. Os achados desta fase, devido à sua natureza exploratória, servem como direcionamento para futuras investigações (Jung e Ramos, 2024).

A análise dos questionários revelou que os gestores percebem o PGD como benéfico para a produtividade, associando-o à maior motivação. Houve discordância nas unidades 1 e 3, com percepções menos favoráveis, enquanto a unidade 4 demonstrou apoio consistentemente positivo. Essa percepção gerencial alinha-se com outros estudos no setor público. No projeto-piloto do Instituto Federal Goiano, o “aumento da produtividade” foi destacado por servidores e chefias (Moraes et al., 2022). Na Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE/MS), 52,9% dos servidores sentiram um aumento de produtividade, percepção corroborada pelos gestores (Lima e Fajardo, 2022). Pesquisas na Secretaria de Estado de Economia do DF e no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão também encontraram resultados semelhantes (Paro et al., 2024; Ribeiro et al., 2024).

A análise quantitativa por regressão linear (OLS) demonstrou, com alta significância estatística (p < 0,001), que servidores em PGD produziram, em média, 14,7% a mais que os não participantes. Embora o modelo explique uma pequena parte da variância (R² = 0,049) e os resíduos não sigam uma distribuição normal, o grande número de observações (7.689) e o Teorema do Limite Central garantem a robustez dos coeficientes estimados para a medição de impacto (Fávero e Belfiore, 2023). O modelo é, portanto, confiável para afirmar que o PGD está associado a um ganho de produtividade significativo no órgão.

Desagregando por modalidade, o PGD Parcial foi o mais produtivo, com aumento de 21% em relação ao grupo de controle, seguido pelo PGD Presencial (19%) e PGD Remoto integral (9%), sugerindo que modelos híbridos podem otimizar os benefícios. Contudo, o achado principal foi a extrema variabilidade dos resultados entre setores. O gráfico de dispersão mostrou que, dependendo da unidade, o PGD poderia tanto aumentar quanto reduzir a produtividade. Isso evidencia que a eficácia do PGD depende do contexto de cada equipe e da gestão aplicada, desaconselhando uma política centralizada e uniforme para todo o órgão.

A análise da série temporal da produtividade revelou uma queda em outubro de 2024 e uma recuperação a partir de fevereiro de 2025. As entrevistas qualitativas levantaram hipóteses para essas flutuações. A gestora do PGD apontou a edição de um novo ato normativo em 30 de outubro de 2024 e a implementação do sistema Petrvs em dezembro de 2024. A nova norma restringiu servidores em cargos comissionados às modalidades presenciais, o que, segundo a segunda entrevistada, pode ter levado a uma reorganização do trabalho, concentrando tarefas nos gestores (agora obrigatoriamente presenciais) e potencialmente retirando atribuições dos servidores em teletrabalho.

Essa hipótese sugere que a queda de produtividade no PGD integral e o aumento no presencial não refletem uma mudança na eficiência do programa, mas uma consequência da segregação funcional imposta pela nova regra. A produtividade dos gestores aumentou pela concentração de trabalho, enquanto a dos servidores em teletrabalho diminuiu por possível redução de demanda. A recuperação a partir de março de 2025 pode indicar uma adaptação a essa dinâmica ou os efeitos do sistema Petrvs. O achado sublinha como fatores organizacionais e normativos externos influenciam os resultados de uma política de gestão.

O ponto central da discussão é a dissonância entre a produtividade medida e a percepção dos gestores. A análise por diretoria revelou um paradoxo: as unidades 1 e 2, com os maiores ganhos de produtividade do PGD (28% e 23%, respectivamente), expressaram as percepções mais negativas. Em contrapartida, a unidade 3, onde o impacto do PGD tendeu a ser negativo, teve uma avaliação positiva. Apenas a unidade 4, a mais produtiva em volume no SEI, alinhou percepção positiva e ganho de produtividade medido (10%). Este desalinhamento sugere que gestores têm dificuldade em avaliar o desempenho objetivamente, baseando-se em intuições ou na sensação de perda de controle sobre a equipe remota.

Essa desconexão é um achado crítico, pois decisões estratégicas sobre o PGD podem estar sendo tomadas com base em percepções falhas. A literatura corrobora que muitos desafios do teletrabalho são frequentemente deficiências de gestão preexistentes, amplificadas pelo ambiente remoto. Resistência de chefias e dificuldade em organizar e controlar atividades à distância são barreiras culturais que o PGD expõe (Oliveira et al., 2020). Os resultados deste estudo, alinhados a outras pesquisas quantitativas que também encontraram ganhos de produtividade (Marquese, 2019; Teixeira e Bacinello, 2024), reforçam que o PGD é uma ferramenta eficaz, mas seu sucesso depende de uma cultura de gestão orientada por dados e confiança.

A análise sugere que a alteração normativa de outubro de 2024, restringindo gestores ao trabalho presencial, pode ter sido prejudicial à produtividade geral. A concentração de trabalho nos gestores e a subutilização de servidores em teletrabalho indicam uma possível falha de gestão decorrente da regra. Recom

Referências:
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Brasil. 2022. Decreto nº 11.072, de 17 de maio de 2022. Dispõe sobre o Programa de Gestão e Desempenho – PGD da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Diário Oficial da União, Brasília, 18 maio 2022. Seção 1, p. 4.
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Creswell, J. W.; Creswell, J. D. 2021. Projeto de Pesquisa: Métodos Qualitativo, Quantitativo e Misto. 2ed. Penso Editora, Porto Alegre, RS, Brasil.
Fávero, L. P.; Belfiore, P. 2023. Manual de Análise de Dados: Estatística e Machine Learning com Excel®, SPSS®, Stata®, R® e Python®. GEN LTC, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Gertler, P. J.; Martinez, S.; Premand, P.; Rawlings, L. B.; Vermeersch, C. M. J. 2018. Avaliação de Impacto na Prática. 2ed. World Bank Publications, Washington, DC, USA.
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Resumo executivo oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Gestão de Pessoas do MBA USP/Esalq

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