Brasil já vive no futuro da transição energética
28 de março de 2024
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Enquanto a maior parte da matriz energética mundial ainda é fóssil, 44% das fontes de energia brasileiras são renováveis
Já pensou em ter um carro movido a álcool e a eletricidade ao mesmo tempo? Esse cenário não está tão longe. O setor sucroenergético vem se posicionando como uma das possíveis soluções para a transição energética global, e o Brasil está dois passos à frente da maior parte do mundo na área, em busca de explorar novas potencialidades da economia de baixo carbono. A entrevista da Revista Estratégias e Soluções (E&S) deste mês é com o economista Haroldo Torres, sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos e consultor de empresas do setor de agronegócios. Assista a seguir à conversa entre ele e a jornalista Soraia Fessel sobre esse tema.
O Brasil vem sendo pródigo na criação de políticas de transição energética, que envolvem não só a mitigação das emissões dos gases que geram o efeito estufa, mas também o ganho de eficiência energética no dia a dia e a difusão de fontes limpas de energia.
Vários países além do Brasil já têm compromissos, metas e incentivos nesse sentido, porém, a maior parte da matriz energética mundial ainda é fóssil. Enquanto isso, a matriz brasileira é composta de derivados de cana-de-açúcar (16,4%) e de fontes hidráulicas (11%), entre outras modalidades limpas.
No total, 44% das nossas fontes de energia são renováveis, o que coloca o país como um dos líderes mundiais no contexto da transição energética, equiparado a Islândia, Noruega e Suécia. Isso sem mencionar a geração específica de eletricidade, em que mais de 78% das fontes brasileiras são renováveis. “Nós estamos hoje onde muitos setores e muitas economias querem estar em 2030, 2050”, disse Haroldo Torres.
E o processo não abrange apenas energia, mas engloba tudo o que está relacionado com esse contexto: eletrificação, combustíveis de baixo carbono, captura e armazenamento de carbono e redução da pegada ambiental (avaliação das emissões de gases de efeito estufa desde o início do processo, analisando todo o ciclo de vida do produto).
De acordo com o economista, as emissões mundiais ligadas a combustíveis fósseis quase quadruplicaram nos últimos 60 anos, o que é alarmante. Os carros elétricos vêm sendo considerados no mercado como uma das soluções, mas Torres afirma que é preciso ter cautela quanto a essa possibilidade: há um “grande volume de emissões de gases de efeito estufa para a obtenção do lítio que vai nas baterias”. Do outro lado, no caso do etanol, segundo ele, acontece o contrário: “Desde a produção agrícola a gente tem emissões, mas também tem sequestro”, explicou.
De acordo com ele, o processo da transição energética está levando as pessoas a avaliarem as soluções em conjunto com as emissões, ou seja, pensar na pegada de carbono que cada modalidade gera. “É isso que importa”, disse Torres.
Outros pilares da atuação do Brasil na área são os biocombustíveis, seja com o etanol, seja com o biodiesel, e as energias solar e eólica. “Podemos dizer que estamos crescendo em outros vetores; por exemplo, com biogás e biometano”, afirmou. Ainda vamos “falar muito sobre o hidrogênio verde também como um catalisador desse processo da transição energética”.
O maior desafio daqui para frente, alertou o economista, é ter cuidado para que o processo de transição energética tenha foco na descarbonização e gere segurança energética, mas de uma maneira lenta e gradual, para que não gere elevação de custos e inflação.
Sobre o entrevistado
Haroldo Torres é gestor de projetos do Pecege, professor do MBA USP/Esalq, professor da Faculdade Pecege e consultor de empresas do setor de agronegócios.