Gestão e motivação na percepção dos funcionários da escola: um estudo de 2012 a 2022
18 de setembro de 2023
13 min de leitura
DOI: 10.22167/2675-6528-20230068
E&S 2023,4: e20230068
Diana de Souza Cara; Natália Capristo Navarro
Local de convivência, aprendizagem e desenvolvimento pessoal, a escola, muito focada nos alunos, em alguns casos talvez seja insatisfatória no que diz respeito aos funcionários. O presente artigo versa sobre a questão da gestão escolar das escolas brasileiras, buscando compreender se os modelos de gestão adotados têm impacto sobre seus funcionários, mais precisamente, se influenciam a motivação e o clima escolar, positiva ou negativamente.
De acordo com Lima[1], a gestão escolar pode contribuir para um clima positivo dentro da escola, e isso favorece o trabalho pedagógico, pois aproxima as pessoas em torno dos objetivos comuns dessa instituição. Tendo como base essa assertiva, foi realizada uma análise para verificar se outros autores concordavam com essa visão. Identificou-se que uma maneira de buscar esse clima mais positivo se dá através da gestão democrática, que, de acordo com Souza[2], tem passado por um processo de desenvolvimento dentro das escolas brasileiras, com docentes e gestores construindo diálogos mais horizontais para lidar com os problemas escolares do dia a dia. Para Lima[3], porém, a gestão democrática da escola é um processo contínuo e nunca concluído de vivência da democracia dentro das unidades escolares.
Fauri[4] vai além e defende que o ambiente escolar deve ser descontraído e de cooperação, construído através de um diálogo constante, onde as pessoas se sentem à vontade para expressar suas opiniões sem medo de julgamentos ou retaliações. A autora também afirma que o gestor precisa estar atento ao fato de que suas atitudes e comportamentos podem gerar desconforto na equipe e, segundo ela, isso é algo que precisa ser trabalhado, pois a falta de motivação dos funcionários pode interferir tanto em sua vida profissional quanto no pessoal.
Conforme Novello[5], os estudos sobre clima escolar que fogem do senso comum são recentes no Brasil, fato que impactou a análise sobre o tema, demonstrando que muito ainda pode ser estudado. Diante disso, decidiu-se por uma pesquisa exploratória por meio da metodologia de revisão sistemática, com base em dados secundários que permitiram uma análise do que já foi produzido sobre o tema. Essa revisão consistiu em um estudo guiado pelo protocolo de pesquisa, elaborado a partir da seguinte questão: “qual o impacto da gestão no clima escolar e na motivação dos funcionários?”.
A pesquisa teve como objetivo analisar a influência da gestão escolar na motivação dos funcionários e no clima das instituições de ensino, baseando-se na literatura produzida em um período de dez anos. O tema mostrou-se relevante no sentido de que pode contribuir com uma reflexão sobre ações através das quais os gestores possam motivar suas equipes e inspirar atitudes positivas, mantendo os talentos nas unidades escolares.
As bases indexadoras utilizadas foram Scielo e Google Scholar. Foram considerados apenas trabalhos em português, dentro do parâmetro cronológico de 2012 a 2022. Os descritores utilizados foram: clima escolar, gestão escolar, comunicação, liderança, motivação e escuta ativa. Durante a extração dos dados, a pesquisa apresentou 260 resultados, dos quais 209 foram excluídos por não estarem de acordo com a temática proposta; um foi eliminado por ser duplicado, e outro, por ser capítulo de livro. Restaram então 49 estudos, entre artigos, teses e dissertações, os quais foram devidamente analisados. Para seguir com a revisão sistemática, foram estabelecidos três critérios de inclusão (CI) e três critérios de exclusão (CE), vistos a seguir:
- CI1 – Trabalhos presentes nas bases indexadoras supracitadas;
- CI2 – Trabalhos que estavam de acordo com a temática proposta;
- CI3 – Estudos que contemplavam a realidade das escolas brasileiras;
- CE1 – Trabalhos não relacionados ao tema proposto;
- CE2 – Estudos que não contemplavam apenas a realidade das escolas brasileiras;
- CE3 – Trabalhos que não atendiam integralmente aos critérios de inclusão.
Na Tabela 1, abaixo, é possível visualizar os trabalhos encontrados na busca, de acordo com os critérios previamente estabelecidos:
Tabela 1. Trabalhos selecionados, analisados e submetidos aos critérios de inclusão e exclusão
Nº | Artigos selecionados | Ano | Critério aplicado |
1 | KNOBLAUCH, Adriane et al. Levantamento de pesquisas sobre cultura escolar no Brasil. | 2012 | CE1 |
2 | VELOSO, Luísa et al. Participação da comunidade educativa na gestão escolar. | 2012 | CE2 |
3 | JUSTO, Maria Christina. Coordenação de curso no ensino superior: atuação, funções, possibilidades e limites. | 2013 | CE3 |
4 | PASSADOR, Cláudia Souza; SALVETTI, Thales Silveira. Gestão escolar democrática e estudos organizacionais críticos: convergências teóricas. | 2013 | CE3 |
5 | FAURI, Marielza Teipel. As relações interpessoais no contexto escolar e a atuação da gestão: um estudo de caso. | 2014 | CI1, CI2, CI3 |
6 | BEZERRA, Maura Costa. Ser gestora da educação infantil: quais sentidos atribuídos na cultura profissional? | 2014 | CE3 |
7 | SILVA, Andréia Ferreira; SOUZA, Antônio Lisboa Leitão. Condições do trabalho escolar: desafios para os sistemas municipais de ensino. | 2014 | CE3 |
8 | PEREIRA, Fátima; MOURAZ, Ana. Crise da educação escolar e percepções dos professores sobre o seu trabalho: identidade profissional e clima de escola em análise. | 2015 | CE2 |
9 | COELHO, Fabiana Martins. O cotidiano da gestão escolar: o método de caso na sistematização de problemas. | 2015 | CE1 |
10 | COSTA, Andreia Rubina da Conceição; BENTO, António V. Práticas e comportamentos de liderança na gestão dos recursos humanos escolares. | 2015 | CE3 |
11 | OLIVEIRA, Ana Cristina Prado de; WALDHELM, Andrea Paula Souza. Liderança do diretor, clima escolar e desempenho dos alunos: qual a relação? | 2016 | CI1, CI2, CI3 |
12 | ESTRELA, Eliana Nunes. Aprendizagem cooperativa: uma experiência em uma escola pública no município de Jardim Ceará. | 2016 | CE1 |
13 | RAMOS, Fernando Manuel Freire da Silva. O conselho geral como instrumento de governança pública- estudo de caso: o agrupamento de escolas de São João do Estoril. | 2016 | CE2 |
14 | ALVES, Wanderson Ferreira. Avaliar e gerir: força e miséria de um ideário presente nas políticas educacionais contemporâneas. | 2016 | CE1 |
15 | LOPES, Mário da Lomba. Administração e gestão das escolas secundárias em cabo verde: perspectivas e práticas dos diretores. | 2017 | CE2 |
16 | ABDIAN, Graziela Zambão et al. Sentidos de política e/de gestão nas pesquisas sobre a escola. | 2017 | CE3 |
17 | ALVES, Márcia Galdino. Gestão escolar: desafios e possibilidades da gestão participativa na escola pública. | 2017 | CE3 |
18 | LIMA, Licínio C. Por que é tão difícil democratizar a gestão da escola pública? | 2018 | CI1, CI2, CI3 |
19 | OLIVEIRA, Ana Cristina Prado de; CARVALHO, Cynthia Paes de. Gestão escolar, liderança do diretor e resultados educacionais no Brasil. | 2018 | CI1, CI2, CI3 |
20 | OLIVEIRA, Ivana Campos; VASQUES-MENEZES, Ione. Revisão de literatura: o conceito de gestão escolar. | 2018 | CI1, CI2, CI3 |
21 | PEREIRA, Rodrigo da Silva; SILVA, Maria Abádia da. Políticas educacionais e concepção de gestão: o que dizem os diretores de escolas de ensino médio do Distrito Federal. | 2018 | CI1, CI2, CI3 |
22 | SOUSA, Ivonete Ferreira. et al. As redes da educação integral no Distrito Federal sob o prisma da gestão escolar. | 2018 | CE3 |
23 | PASCHOALINO, Jussara Bueno de Queiroz. Gestão escolar na educação básica: construções e estratégias frente aos desafios profissionais. | 2018 | CE3 |
24 | BOTLER, Alice Miriam Happ. Gestão escolar para uma escola mais justa. | 2018 | CE2 |
25 | FALSARELLA, Ana Maria. Os estudos sobre a cultura da escola: forma, tradições, comunidade, clima, participação, poder. | 2018 | CE3 |
26 | ELLER, Edson Wander. A concepção de mediação de conflito no ambiente escolar. | 2019 | CE3 |
27 | MIRANDA, Antônio Carlos et al. Fatores que afetam o clima da escola: a visão dos professores. | 2019 | CI1, CI2, CI3 |
28 | MORO, Adriano et al. Avaliação do clima escolar: construção e avaliação de instrumentos de medida. | 2019 | CI1, CI2, CI3 |
29 | SOUZA, Ângelo Ricardo de. As condições de democratização da gestão da escola pública brasileira. | 2019 | CI1, CI2, CI3 |
30 | DIAS, Gueroliny Ruany Uchôa. Gestão escolar e práticas de redução dos conflitos: a justiça restaurativa em questão. | 2019 | CE1 |
31 | FERRINHO, Lisa Mateus. A agregação de escolas e a (re)construção de uma matriz identitária: a liderança do diretor escolar. | 2019 | CE2 |
32 | BENEVIDES, Tacila Maria Alves. Gestão e equidade: o desafio da evasão na 1ª série da Escola de Ensino Médio Ananias do Amaral Vieira. | 2019 | CE1 |
33 | OLIVEIRA, Regina Tereza Cestari. As mudanças nas formas de gestão escolar no contexto da nova gestão pública no Brasil e em Portugal. | 2019 | CE2 |
34 | NOVELLO, Rejane. Relações interpessoais positivas: um estudo etnográfico em uma escola municipal de cascavel PR. | 2020 | CI1, CI2, CI3 |
35 | HOLANDA, Cristiane Carvalho. O desenvolvimento das competências socioemocionais na educação biocêntrica, na aprendizagem cooperativa e nos círculos de construção de paz a partir de uma narrativa autobiográfica. | 2020 | CI1, CI2, CI3 |
36 | GOBBI, Beatriz Christo et al. Uma boa gestão melhora o desempenho da escola, mas o que sabemos acerca do efeito da complexidade da gestão nessa relação? | 2020 | CE1 |
37 | BANDLER, Paula Cristina Castro Pinheiro. A dimensão formativa como mobilizadora da ação supervisora. | 2021 | CI1, CI2, CI3 |
38 | BRÁS, Ana Sofia da Conceição. Liderança e cultura organizacional: o impacto da liderança do diretor na cultura. | 2021 | CI1, CI2, CI3 |
39 | TAVARES, Ezequiel. O papel da comunicação na relação entre a escola e a família: um estudo de caso numa escola de 2.º e 3.º ciclo do ensino básico. | 2021 | CE2 |
40 | OLIVEIRA, Vanessa Paula. A autoavaliação institucional como instrumento de educomunicação a serviço da gestão escolar democrática e participativa. | 2021 | CE3 |
41 | LIMA, Maria de Fátima Magalhães. Seleção de diretores e o sentido da gestão escolar: percepções de diretores sobre o plano de gestão. | 2021 | CE1 |
42 | LIMA, Carla Valéria Farias. “Aprendendo a ser diretora de escola sendo”: um olhar para as aprendizagens de diretoras iniciantes. | 2022 | CI1, CI2, CI3 |
43 | LIMA, Daniel Hidalgo; PERES, Maria Fernanda Tourinho. As pesquisas sobre o clima escolar e saúde no Brasil – uma revisão de escopo. | 2022 | CI1, CI2, CI3 |
44 | PERRELLA, Cileda dos Santos Sant’anna; ALENCAR, Felipe. Gestão para resultados e ações de controle na política educacional paulista. | 2022 | CI1, CI2, CI3 |
45 | RABELLO, Luis Gustavo. Gestão escolar em tempos de pandemia: impactos e desafios das escolas privadas de Varginha-MG. | 2022 | CE3 |
46 | SIMIELLI, Lara. Revisão sistemática da literatura brasileira sobre diretores escolares. | 2022 | CI1, CI2, CI3 |
47 | ALVES, Thaís Lopes de Lucena; BISPO, Marcelo de Souza. Formação de gestores públicos escolares à luz da reflexividade prática. | 2022 | CE1 |
48 | SILVA, Maria Cristiane Lopes et al. Tecendo olhares sobre a gestão dos conflitos na escola. | 2022 | CE1 |
49 | RAGAZZO, Carlos Emmanuel Joppert; ALMEIDA, Guilherme. Uma estratégia de treinamento de diretores baseada em dados. | 2022 | CE2 |
A Figura 1, a seguir, evidencia os trabalhos selecionados ao final da análise primária dos dados, após submetidos aos critérios de inclusão e exclusão. Dos 49 trabalhos selecionados para uma análise mais profunda, 17 foram considerados aptos para a discussão da temática proposta, enquanto 32 foram avaliados como insuficientes para esta revisão sistemática por não atenderem aos critérios de inclusão supracitados.
Figura 1. Seleção dos trabalhos
Fonte: Resultados originais da pesquisa.
Para iniciar o trajeto em busca de entender mais sobre a gestão escolar, é necessário entender o conceito de gestão, palavra originária do latim gestione que, de acordo com Oliveira e Vasques-Menezes[6], é o ato de administrar; com o passar do tempo, no entanto, o termo passou a ter um caráter mais pedagógico e político.
Simielli[7] realizou uma pesquisa em que foram analisados artigos desenvolvidos no Brasil de 1989 a 2019 sobre os diretores escolares. A autora verificou que, no país, são poucos os estudos sobre o tema e que, além disso, somente em torno de 6% dos artigos sobre gestão escolar têm como foco os gestores – daí a importância de esse tema continuar sendo explorado.
Pereira e Silva[8] fizeram o seguinte questionamento em suas pesquisas: “pela sua compreensão e experiência, como se constitui uma gestão escolar efetiva?” De acordo com eles, as respostas foram que é por meio de:
a) “participação e diálogo” (46%);
b) “recursos humanos e materiais” (26%);
c) “engajamento profissional” (26%).
Assim, observa-se que o diálogo era visto como algo importante para a maioria dos participantes.
Ao debater o tema da gestão escolar, é necessário tratar de uma aptidão em especial: a liderança. Cabe avaliar a posição de Souza[2], que acredita que a capacidade de liderança é algo de difícil avaliação através de concursos, visto que é esperado que o líder possua alguns valores subjetivos, portanto, de difícil mensuração. Simielli[7] vai mais além na discussão, pois avalia que a liderança escolar precisa se tornar um campo de pesquisa estruturado no Brasil. A autora defende que o tema seja prioridade na agenda governamental, uma vez que os gestores têm grande importância na promoção de uma educação de qualidade, o que é legitimado por Brás[9]; que afirma ser possível verificar que uma cultura organizacional forte depende de uma liderança eficaz, o que pode inclusive colaborar com os resultados dos alunos. Essa visão é corroborada também por Oliveira e Waldhelm[10], que citam que alguma atenção já vem sendo dada ao campo da gestão e liderança nas escolas, consideradas como importantes fatores de influência no resultado da aprendizagem dos alunos.
De forma geral, a liderança partilhada tem sido vista como mais efetiva do que a centralização na pessoa do gestor[9]. Para que ela se torne possível na escola, espera-se que o líder seja democrático e, de preferência, carismático. Para Brás[9], é possível atingir esse nível de liderança através da formação continuada. A investigação necessária a seguir, então, é sobre a gestão democrática. Esse modelo é usado nas escolas brasileiras? Como ele pode facilitar o trabalho dos gestores?
Através da gestão democrática compartilha-se a tomada de decisão com a comunidade escolar. De acordo com Souza[2], a democracia demanda do gestor uma disposição ao diálogo, e, por isso, espera-se que ele esteja disposto a ouvir ativamente. Ainda segundo o autor, sem o diálogo não há contradição, e sem contradição não há democracia. Portanto, é saudável que haja opiniões diferentes, o que costuma ser benéfico para as discussões e para a tomada de decisões. Tendo em vista que a escola é um espaço de construção da cidadania, Souza[2] menciona ainda que é importante que o gestor saiba mensurar os níveis democráticos da escola, para possibilitar a comparação e promover um processo de desenvolvimento ao longo do tempo.
Com a descentralização da tomada de decisão na escola, alguns grupos passam a ser mais ouvidos, como por exemplo a Associação de Pais e Mestres e o grêmio estudantil[11]. Essas entidades podem contribuir com as demandas da escola, trazendo pontos de vista diversos que talvez sejam desconhecidos pelos gestores. Oliveira e Vasques-Menezes[6] observaram que a pesquisa sobre o tema da gestão escolar com ênfase em gestão democrática tem aumentado nos últimos anos, mas ainda precisa ser mais explorado nas escolas. De acordo com Lima[3], fatores como visão clara de todos os membros da comunidade escolar, objetivos ambiciosos, líderes fortes, professores mais profissionais e famílias capazes de opinar nas decisões formam a base das instituições que apresentam os melhores resultados.
Uma vez que a comunidade escolar esteja engajada no processo de tomada de decisões, o gestor pode buscar apoio para enfrentar os problemas que surgirem, pois, de acordo com Souza[2], a democracia passa a ter força quando transforma as relações sociais concretas. De acordo com o autor, existe outro instrumento que pode contribuir com a gestão democrática: a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), cujo cenário ideal de elaboração contaria com a participação da maioria dos integrantes da comunidade escolar. É perceptível que, ao sentir-se parte da escola, a comunidade se sente à vontade para colaborar com a resolução dos problemas e com a melhoria contínua do ambiente da escola, que passam a ser objetivos compartilhados por todos[12]. Essa participação ativa de toda a comunidade tem o objetivo de garantir a qualidade do ensino[6], que é a razão de ser da escola.
É recomendável, portanto, que o gestor facilite a existência de uma gestão mais democrática na escola, visto que assim ele poderá compartilhar a tomada de decisão com a comunidade escolar e buscar apoio sempre que houver necessidade. Dessa maneira, todos se sentirão parte do contexto escolar, o que pode gerar mais motivação.
Uma das atribuições do gestor escolar é justamente motivar os funcionários para alcançar os objetivos da instituição. Quando ele é visto como um parceiro, cria-se um clima de confiança e pertencimento, o que se dá especialmente quando ele respeita cada pessoa e contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um[13]. Novello[5] diz que quando os profissionais se sentem engajados, gera-se uma colaboração orgânica, por meio da qual eles se ajudam de maneira natural, pois o objetivo principal é o bem comum do grupo e o sucesso da equipe. Conforme Holanda[14], é importante que o gestor saiba valorizar os talentos de cada um para que juntos possam alcançar os objetivos da escola, pois, somadas, essas habilidades criam uma equipe mais complexa, na qual as aptidões se complementam.
Para que consiga motivar sua equipe, é necessário que o gestor também esteja motivado; percebe-se, contudo, que essa não é uma tarefa simples. Normalmente ele também já foi professor e, portanto, domina as questões pedagógicas, mas pode ter dificuldade para desempenhar as funções políticas e administrativas. Segundo Lima[1], geralmente os gestores aprendem essas funções justamente quando começam a trabalhar na gestão escolar. Embora Moro et al.[12], em uma ampla revisão bibliográfica sobre o clima escolar, não tenham conseguido encontrar um consenso sobre o conceito, de acordo com os autores as referências concordam que o clima diz respeito à percepção da comunidade escolar sobre o ambiente e as relações estabelecidas na escola.
Segundo Moro et al.[12], a investigação do clima escolar, apesar de ainda ser pouco estudada no Brasil, é importante para que cada membro da comunidade escolar expresse sua visão, pois esse conjunto de percepções fornece uma fotografia do ambiente e, dessa forma, o gestor tem mais facilidade para estabelecer prioridades sobre as áreas que precisam de intervenções e melhorias. Oliveira e Carvalho[15] também acreditam na ideia de que a liderança do gestor pode favorecer o clima adequado para um trabalho pedagógico mais eficaz, que poderá resultar em um bom desempenho dos alunos. Entre as pesquisas sobre clima escolar, são raras as que consideram as opiniões dos diversos atores envolvidos, segundo Moro et al.[12], contudo, Lima e Peres[16] consideram que essas diferentes percepções afetam o comportamento do grupo de forma significativa. Brás[9] coloca o gestor como condutor do trabalho pedagógico e diz que, nessa posição, ele pode contribuir para um clima escolar saudável.
Diante do exposto, surge o seguinte questionamento: como manter um clima positivo na escola? Lima[1] traz uma pista ao afirmar que os gestores devem primar por uma boa relação entre todas as pessoas que compõem o ambiente escolar; essa boa relação é, porém, fruto de um longo trabalho. O ideal é que o gestor não perca de vista o profissionalismo que sua função exige. Moro et al.[12] relatam que cada escola possui um clima próprio, que varia de acordo com a atmosfera psicossocial de cada uma e influencia a dinâmica escolar, além de interferir na qualidade de vida das pessoas que frequentam a escola e no processo de ensino e aprendizagem. Miranda[17] et al. concordam que cada escola possui seu clima próprio e que este determina a produtividade e a qualidade de vida das pessoas. Lima[1], por sua vez, pondera que o gestor sozinho não pode ser responsabilizado pela qualidade educacional, porém, por estar à frente da gestão, deve zelar pelas questões que contribuem para um clima escolar positivo.
O presente trabalho buscou contribuir com a discussão sobre temas importantes nas escolas, porém apresentou algumas limitações, como, por exemplo, o fato de considerar apenas duas bases de dados para a coleta das informações, bem como o fato de analisar apenas produções em língua portuguesa e referências mais atuais. Dessa maneira, é importante que outros trabalhos sobre esse tema e temas correlatos sejam elaborados para que essa discussão prossiga, contribuindo assim com a melhoria dos ambientes escolares no Brasil. Este artigo é fruto de um recorte das informações presentes na literatura, e seu objetivo jamais foi esgotar o assunto. A partir daqui, outras pesquisas podem ser realizadas para aprofundar os temas analisados ou acrescentar outras circunstâncias à discussão estabelecida. Foi possível concluir, contudo, que a gestão tem, sim, um papel fundamental no que concerne à motivação dos funcionários e ao clima escolar e, para que ela possa ter um desempenho favorável nesse quesito, pode lançar mão de algumas ferramentas analisadas durante este estudo. Acredita-se que, assim, seja possível tornar o clima escolar mais positivo.
Referências
[1] Lima C.V.F. “Aprendendo a ser diretora de escola sendo”: um olhar para as Aprendizagens de diretoras iniciantes [Dissertação]. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos; 2022. Disponível em <https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/16667>. Acesso em: 03 set. 2022.
[2] Souza A.R. As condições de democratização da gestão da escola pública brasileira. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. 2019; 27(103): 271-290. DOI: 10.1590/S0104-40362018002601470.
[3] Lima L.C. Por que é tão difícil democratizar a gestão da escola pública? Educar em Revista. 2018; 34(68): 15-28. DOI: 10.1590/0104-4060.57479.
[4] Fauri M.T. As relações interpessoais no contexto escolar e a atuação da gestão: um estudo de caso [Monografia]. Três Passos (RS): Universidade Federal de Santa Maria; 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/handle/1/11774>. Acesso em: 03 set. 2022.
[5] Novello R. Relações interpessoais positivas: um estudo etnográfico em uma escola municipal de Cascavel PR [Dissertação]. Cascavel (PR): Universidade Estadual do Oeste do Paraná; 2020. Disponível em: <https://tede.unioeste.br/bitstream/tede/4833/5/Rejane%20Novello.pdf> Acesso em: 03 set. 2022.
[6] Oliveira I.C.; Vasques-Menezes I. Revisão de literatura: o conceito de gestão escolar. Cadernos de Pesquisa. 2018; 48(169): 876-900. DOI: 10.1590/198053145341.
[7] Simielli L. Revisão sistemática da literatura brasileira sobre diretores escolares. Cadernos de Pesquisa: Políticas Públicas, Avaliação e Gestão. 2022; 52: e08984. DOI: 10.1590/198053148984.
[8] Pereira R.S.; Silva M.A. Políticas educacionais e concepção de gestão: o que dizem os diretores de escolas de ensino médio do Distrito Federal. Educar em Revista. 2018; 34(68): 137-160. DOI: 10.1590/0104-4060.57219.
[9] Brás A.S.C. Liderança e cultura organizacional: o impacto da liderança do diretor na cultura [Dissertação]. Fafe (Portugal): Escola Superior de Educação de Fafe; 2021. Disponível em: <https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/40388>. Acesso em: 03 set. 2022.
[10] Oliveira A.C.P.; Waldhelm, A.P.S. Liderança do diretor, clima escolar e desempenho dos alunos: qual a relação? Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. 2016; 24(93): 824-844. DOI: 10.1590/s0104-40362016000400003.
[11] Perrella C.S.S.; Alencar F. Gestão para resultados e ações de controle na política educacional paulista. 2022. Educação em Revista. 2022; 38: e25020. DOI: 10.1590/0102-469825020.
[12] Moro A.; Vinha T.P.; Morais A. Avaliação do clima escolar: construção e avaliação de instrumentos de medida. Caderno Pesquisa. 2019; 49(172): 312-334. DOI: 10.1590/198053146151.
[13] Bandler P.C.C.P. A dimensão formativa como mobilizadora da ação supervisora [Dissertação]. São Paulo (SP): Universidade Católica de São Paulo; 2021. Disponível em: <https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/25994>. Acesso em: 03 set. 2022.
[14] Holanda C.C. O desenvolvimento das competências socioemocionais na educação biocêntrica, na aprendizagem cooperativa e nos círculos de construção de paz a partir de uma narrativa autobiográfica [Tese]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará; 2020. Disponível em <https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/53011>. Acesso em: 03 set. 2022.
[15] Oliveira A.C.P.; Carvalho C.P. Gestão escolar, liderança do diretor e resultados educacionais no Brasil. Revista Brasileira de Educação. 2018; 23: e230015. DOI: 10.1590/s1413-24782018230015.
[16] Lima D.H.; Peres M.F.T. As pesquisas sobre o clima escolar e saúde no Brasil – uma revisão de escopo. Ciência & Saúde Coletiva. 2022; 27(9): 3475-3485. DOI: 10.1590/1413-81232022279.21842021.
[17] Miranda A.C.; Bertagna R.H.; Freitas L.C. Fatores que afetam o clima da escola: a visão dos professores. Pro-Posições. 2019; 30: e20160102. DOI: 1590/1980-6248-2016-0102.
Como citar
Cara D.S.; Navarro N.C. Gestão e motivação na percepção dos funcionários da escola: um estudo de 2012 a 2022. Revista E&S. 2023; 4: e20230068.
Sobre os autores
Diana de Souza Cara, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Rua Quadros Sobrinho, centro, Limeira, São Paulo, Brasil.
Natália Capristo Navarro, doutoranda em Educação. Universidade Federal Fluminense, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Faculdade de Educação. Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis São Domingos, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
Link para download: https://revistaes.com.br/wp-content/uploads/2023/09/ES_23068.pdf