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Coluna

A legendagem na sala de aula

25 de novembro de 2024

6 min de leitura

Legendas são indispensáveis para que conteúdos multimídia sejam acessíveis

Nos últimos 50 anos, vimos o surgimento de grandes inovações tecnológicas, e elas chegaram também às salas de aula. Os retroprojetores reinaram na década de 1980; a televisão, na década de 1990; nos anos 2000 vieram os computadores, os tablets e a internet. A década de 2020 massificou as aulas 100% on-line. Todos esses avanços contribuíram para melhorar o processo de ensino e aprendizagem.

As novas ferramentas permitem aos alunos conhecer os assuntos estudados de forma mais completa, com conteúdos que, algumas vezes, eram inacessíveis. Atualmente não é mais necessário se basear apenas em textos, ou na habilidade artística do professor ao desenhar na lousa. Vídeos, fotos, sons, música, documentários, animações ou até mesmo livros e periódicos antigos digitalizados estão à disposição e podem ser acessados com poucos cliques.

Especialmente no mundo contemporâneo, em que os estudantes estão cercados de tecnologias como celulares, tablets, computadores, televisores, totens de autoatendimento e até agências bancárias virtuais, a junção do ensino com as novas tecnologias se torna ainda mais relevante, influenciando no engajamento e na captura da atenção dos estudantes.

A inclusão de recursos audiovisuais nas estratégias de ensino tem sido estudada há décadas e, apesar dos desafios encontrados (como a falta de recursos financeiros para investir nos equipamentos necessários), é difícil encontrar uma proposta de currículo educacional que não inclua seu uso em sala de aula.

De acordo com o Currículo em Movimento da Educação Básica – Pressupostos Teóricos, da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (2014), as “rápidas transformações” das últimas três décadas, incluindo a globalização, “refletem-se em novas configurações culturais”, o que, por sua vez, “interfere diretamente nas práticas educativas”.

Com tantas mudanças a serem incorporadas ao ensino, ferramentas de acessibilidade – novas ou remodeladas – também se tornaram necessárias. Uma dessas ferramentas é a legendagem.

A legendagem surgiu em 1903, há pouco mais de cem anos, no filme “Uncle Tom’s Cabin”, de Edwin S. Porter. Chamadas de “intertítulos”, as legendas apareciam como textos em tela, entre as cenas do filme mudo. Pouco depois da introdução do som aos filmes, o uso de legendas começou a ser popularizado, após a exibição do filme “The Jazz Singer”, em 1929, que tinha áudio em inglês e legendas em francês.

A inovação no uso de legendas com a tradução do que era dito abriu novas possibilidades para o cinema, que dependia, até então, do processo mais longo e custoso da dublagem. Desde então, legendas são tidas como ferramentas facilitadoras do acesso do público ao conteúdo exibido, principalmente em idiomas estrangeiros.

Naturalmente, essa ferramenta tão útil não ficou contida aos cinemas e começou a ser implementada também na televisão. Até que, em 1971, na Primeira Conferência Nacional de Televisão para Deficientes Auditivos, na Universidade do Tennessee (EUA), foram apresentadas as legendas chamadas closed caption, que descreviam os sons do vídeo e podiam ser exibidas no próprio televisor. Essa inovação trouxe para as emissoras o público surdo e ensurdecido, que antes dependia do uso de aparelhos especiais conectados ao televisor para ter acesso a legendas. O sucesso foi tão grande que, já na década de 80, as grandes emissoras ao redor do mundo tinham legendas em seus principais programas.

Finalmente, com o acesso popular à internet, o crescimento da presença das redes sociais e a globalização da tecnologia, hoje temos as mais variadas formas de legendagem: com ou sem descrição de sons, traduzidas em vários idiomas, geradas por inteligência artificial, revisadas por humanos, coloridas, com contraste… As opções são quase infinitas.

Existem legendas em cursos on-line, no teatro, em palestras e eventos, nas redes sociais – e muito mais. O que, de fato, era de se esperar, considerando o progresso constante da legendagem e os benefícios já mencionados. Ainda assim, as estatísticas surpreendem.

De acordo com pesquisas da Stagetext, uma organização de caridade voltada para a comunidade surda, 80% da população britânica entre 18 e 24 anos usa legendas, apesar de apenas 10% terem se identificado como surdos ou ensurdecidos. Pesquisas da Preply, um aplicativo de ensino de idiomas, mostram que 90% dos americanos entrevistados já utilizaram legendas em algum momento. Esses números sugerem que as legendas são utilizadas por mais pessoas do que aquelas do público-alvo original. Na busca de entender esses dados, vários estudos começaram a ser, e continuam sendo, elaborados.

Mas o que isso tem a ver com a sala de aula? Mais uma vez, muito mais do que o esperado. Estudos sobre o uso de legendas mostraram que elas são ótimas ferramentas de acessibilidade também para pessoas neurodivergentes. Lewis e Brown publicaram em 2012 o estudo “Multimedia and ADHD Learners” (Multimídia e Alunos com TDAH, em tradução livre), que coloca a legenda como uma ferramenta benéfica para alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, devido ao estímulo cognitivo que ela causa, além dos estímulos visuais e sonoros já existentes nos vídeos.

De forma semelhante, Kemenade, em seu trabalho “Audiovisual Speech Integration: Assessing the Additional Effect of Subtitles” (Integração Audiovisual da Fala: Avaliando o efeito adicional das legendas), da Tilburg University (Países Baixos), analisa as vantagens encontradas por pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao utilizarem legendas. Um dos grandes desafios que muitas dessas pessoas enfrentam é o processamento auditivo, principalmente quando há barulhos de fundo, caso em que a legenda se torna fundamental para garantir a compreensão do que está sendo dito no vídeo.

Já Mowlaie e Yargholi, da Universidade Islâmica Azad (Irã), em seu estudo “Investigating the Impact of Interlingual Subtitling on the Process of Children’s Dyslexia Therapy” (Investigando o impacto de legendagem interlingual no processo de terapia para crianças com dislexia, em tradução livre), notaram uma melhora na habilidade de crianças com dislexia após terapia que fazia uso de legendagem, uma vez que a legenda reforça a relação entre o que é escutado e a grafia das palavras.

Assim, se recursos multimídia são elementos essenciais para a evolução do processo de ensino e aprendizado, legendas são indispensáveis para que esses conteúdos sejam também acessíveis: para alunos estrangeiros, para alunos surdos e ensurdecidos e para alunos com as mais diversas neurodivergências. Incluir os recursos midiáticos sem garantir que estudantes nessas categorias possam usufruir deles é contraproducente e transforma uma inovação positiva em um empecilho à busca pelo conhecimento.

E, se esses já não fossem motivos suficientes para acrescentar legendas aos recursos multimídia utilizados em sala de aula, estudos comprovam que as vantagens são válidas para todos que utilizam legendas, não só para aqueles que dependem delas. A World Literacy Foundation, uma organização global sem fins lucrativos que trabalha para tirar os jovens da pobreza por meio da alfabetização, lista como benefícios da legendagem:

  • a consciência fonêmica, que é a capacidade de identificar e reproduzir sons, como reconhecer a diferença de /v/aca e /f/aca;
  • a expansão do vocabulário;
  • o aumento da compreensão do conteúdo assistido;
  • o aprendizado multissensorial, que combina os estímulos oferecidos ao aluno;
  • o reforço de linguagem, quando o aluno é exposto repetidamente ao mesmo vocabulário ou estrutura linguística, facilitando sua memorização.

O impacto é ainda maior quando as legendas são utilizadas por alunos em fase de alfabetização, que podem criar essas relações positivas desde cedo e já iniciar sua jornada no letramento mais engajados.

Esses fatores são tão significativos que este ano a organização criou a campanha “Turn on the Subtitles” (Ligue as Legendas, em tradução livre), uma das maiores campanhas mundiais para letramento. Segundo dados da campanha, o uso de legendas dobra as chances de uma criança se tornar um leitor proficiente.

Em seu site, eles ensinam pais e educadores a ativar legendas em sites e aplicativos de streaming e na televisão; informam profissionais de legendagem sobre a escolha de fontes acessíveis que promovem a leitura; e divulgam estudos referentes às principais dúvidas sobre o uso de legendas para o público infantil.

Se caminhamos sempre para que o ensino seja atualizado e tire proveito de toda a tecnologia que vem sendo desenvolvida para melhorar a qualidade do aprendizado e a satisfação dos alunos, fica claro que devemos incluir legendas em sala de aula cada vez mais. Legendas são, ao mesmo tempo, fundamentais para alunos com deficiências e um estímulo positivo de letramento aos alunos neurotípicos. Não havendo contraindicações, fica a necessidade de tornar a legenda ainda mais disponível, aumentando o número de recursos midiáticos legendados, conscientizando a população sobre seus benefícios, capacitando profissionais para criação de legendas educacionais e, simplesmente, ligando a legenda sempre que possível.

Este conteúdo foi produzido por:

Luiza Paes

É escritora, tradutora e revisora de legendagem na Skylar. Trabalhou como professora de idiomas por mais de uma década, tendo sido certificada como Microsoft Innovative Educator. Possui publicações de contos e poemas, sob o nome artístico de Malu Paes. Para acessar as obras, entre em contato com a revista.

Autor

Foto do Colunista

Skylar

"Startup" de tecnologia e legendagem que faz parte das iniciativas do Pecege, utiliza inteligência artificial e técnicas linguísticas para fazer legendagem em tempo real. Atuante nas áreas de educação, eventos, agronegócio, tecnologia, saúde, entretenimento e esportes, entre outras. Acesse o site!

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