A governança nos ecossistemas de inovação
13 de dezembro de 2024
5 min de leitura
Prática facilita troca de informações e recursos entre os participantes e promove um ambiente de colaboração
No mundo atual, marcado por mudanças rápidas e contÃnuas, os ecossistemas de inovação desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de economias e sociedades. Esses ecossistemas são formados por uma rede de atores – empresas, startups, universidades, centros de pesquisa, governos e organizações da sociedade civil – que colaboram para gerar soluções inovadoras e tecnologias disruptivas. No entanto, o sucesso desses ambientes depende de um elemento-chave: a governança.
A governança dos ecossistemas de inovação pode ser entendida como um conjunto de estruturas, polÃticas e práticas que coordenam as interações entre os atores, assegurando que os esforços individuais estejam alinhados a um objetivo comum: o desenvolvimento sustentável e a inovação contÃnua. Sem uma governança eficaz, o ecossistema corre o risco de se fragmentar, perdendo oportunidades valiosas de colaboração e sinergia.
Como destaca Chesbrough (2006), um dos pioneiros do conceito de inovação aberta, a governança precisa facilitar as trocas de informações e recursos entre os atores do ecossistema, além de promover um ambiente de confiança e colaboração. A inovação aberta, quando bem governada, torna-se um processo coletivo, no qual a inovação ultrapassa os limites de uma organização para incluir toda a rede de parceiros do ecossistema.
A governança de ecossistemas de inovação é um elemento crÃtico para seu desenvolvimento sustentável. Como observado por Mazzucato (2018), a governança em ambientes de inovação deve equilibrar a liberdade de experimentação com a necessidade de coordenação estratégica. Ela atua como um elo entre os diversos participantes, garantindo que suas ações contribuam para a criação de um ecossistema robusto e orientado à inovação constante.
Uma das funções principais da governança é criar um ambiente que facilite a colaboração intersetorial. Empresas, universidades, governos e organizações do terceiro setor têm prioridades e objetivos distintos, e a governança deve garantir que esses atores alinhem suas ações em prol de um objetivo comum. Segundo Van Aken et al. (2019), a governança eficiente em ecossistemas de inovação deve atuar para minimizar as barreiras institucionais, promovendo a integração de interesses diversos e incentivando a cocriação.
Pilares
A governança de um ecossistema de inovação deve ser baseada em pilares que garantam a sua eficiência, resiliência e pleno desenvolvimento. Esses pilares incluem a estrutura colaborativa, o alinhamento estratégico, a transparência, a flexibilidade e a participação inclusiva.
- Estrutura colaborativa: a governança eficaz depende da criação de fóruns, comitês e conselhos que facilitem a comunicação e o intercâmbio entre os participantes. Como apontado por Adner (2006), uma estrutura colaborativa é fundamental para garantir que os atores compartilhem conhecimento e recursos, criando sinergias que aceleram o processo de inovação. Esses mecanismos de governança são responsáveis por definir metas conjuntas e coordenar ações entre os diferentes setores do ecossistema;
- Alinhamento estratégico: a governança deve assegurar que os objetivos dos diferentes atores estejam alinhados a uma visão comum de longo prazo. Segundo Porter (1998), o alinhamento estratégico entre empresas, governos e academia é um fator-chave para o desenvolvimento de territórios inovadores, pois garante que os recursos sejam direcionados de forma eficaz e estratégica. Esse alinhamento envolve a definição de indicadores de desempenho que permitam medir o impacto e os resultados das iniciativas de inovação;
- Transparência e prestação de contas: para ser eficaz, a governança requer transparência nos processos decisórios e na alocação de recursos. Como argumenta Etzkowitz (2008), a confiança entre os atores do ecossistema é fundamental para a inovação colaborativa. A prestação de contas, tanto no uso dos recursos quanto nos resultados alcançados, reforça a confiança e a credibilidade entre as partes;
- Flexibilidade e adaptabilidade: o dinamismo dos ecossistemas de inovação exige uma governança flexÃvel, capaz de se adaptar rapidamente à s mudanças no ambiente tecnológico e de mercado. A rigidez nas estruturas pode sufocar a inovação. Conforme argumentam O’Reilly e Tushman (2013), a governança precisa encontrar um equilÃbrio entre controle e autonomia, permitindo que os atores do ecossistema inovem sem amarras burocráticas, mas com uma direção estratégica clara;
- Participação inclusiva: a governança deve garantir que todos os atores do ecossistema, incluindo pequenas startups e grandes corporações, tenham espaço para participar e influenciar as decisões. Isso promove uma diversidade de ideias e fortalece a inovação colaborativa. Como observado por Freeman e Engel (2007), ecossistemas que favorecem a participação inclusiva tendem a ser mais inovadores e resilientes, pois aproveitam as diversas perspectivas e competências dos diferentes atores.
Modelos
Diversos modelos de governança podem ser aplicados aos ecossistemas de inovação, dependendo das caracterÃsticas do território e dos setores envolvidos. Entre os modelos mais comuns estão a governançapúblico-privada, a governança descentralizada e o modelo de hub central.
- Governança público-privada: nesse modelo, o governo cria condições regulatórias e incentivos fiscais, enquanto o setor privado e as universidades lideram a inovação. A governança público-privada tem sido amplamente utilizada em parques tecnológicos e zonas de inovação ao redor do mundo, promovendo a sinergia entre empresas e instituições acadêmicas. Um exemplo é o Sistema Paulista de Inovação, que integra governo, empresas e universidades para promover a inovação no Estado de São Paulo;
- Governança descentralizada: esse modelo distribui o poder decisório entre os atores do ecossistema, permitindo maior autonomia para a implementação de iniciativas inovadoras. A vantagem é a agilidade no processo de tomada de decisão, crucial em ambientes de inovação rápida, conforme observado por Benner e Tushman (2003);
- Modelo de hub central: um hub central, geralmente um hub de inovação aberta, um centro de inovação tecnológica, uma incubadora ou um parque tecnológico, atua como coordenador das interações entre os atores do ecossistema. O modelo de hub central fornece suporte e infraestrutura, além de promover a colaboração entre as partes. Esse modelo tem se mostrado eficaz em ecossistemas em fase inicial, onde a coordenação das atividades inovadoras é essencial para o crescimento. Um dos exemplos é o Hub Piracicaba, plataforma pública de inovação que oferece ambiente e serviços de suporte gratuitos para negócios em estágio inicial em Piracicaba (SP). O modelo do Hub Piracicaba foi compartilhado com municÃpios vizinhos da Região Metropolitana de Piracicaba, resultando na criação do Hub Cordeiro (Cordeirópolis-SP) e do Hub Rio Claro (Rio Claro – SP).
Arcabouços legais
A evolução dos arcabouços legais também tem papel fundamental para o fortalecimento dos ecossistemas de inovação. A criação de marcos regulatórios modernos, como o Marco Legal das Startups no Brasil, tem permitido a criação de ambientes regulatórios mais flexÃveis e favoráveis à inovação.
Além disso, ferramentas como os sandboxes regulatórios possibilitam que empresas testem novas tecnologias em um ambiente controlado, sem as restrições dos regulamentos tradicionais. Esses mecanismos regulatórios oferecem maior segurança jurÃdica e estimulam o empreendedorismo, facilitando a inovação e atraindo investimento para os territórios.
Embora esses avanços tenham sido observados em nÃvel federal, muitos municÃpios ainda enfrentam desafios para integrar essas diretrizes à s suas estratégias locais de governança. PolÃticas públicas municipais voltadas à CT&I precisam ser continuamente atualizadas e adaptadas para criar um ambiente que favoreça a inovação, considerando as caracterÃsticas e vocações econômicas de cada território.
Impacto no desenvolvimento econômico e social
Uma governança eficaz em ecossistemas de inovação pode, portanto, transformar territórios em polos de desenvolvimento econômico e tecnológico. Como afirma Mazzucato (2018), a inovação não ocorre no vácuo; ela requer um ambiente colaborativo, onde os atores compartilham conhecimentos e recursos para resolver problemas complexos. Territórios que adotam boas práticas de governança em seus ecossistemas, como o Vale do SilÃcio e Tel Aviv, destacam-se como hubs globais de inovação, atraindo investimentos e gerando empregos de alta qualificação.
Além do impacto econômico, a governança de ecossistemas de inovação promove o desenvolvimento social, ao criar soluções tecnológicas que melhoram a qualidade de vida das comunidades locais. A proximidade entre academia e setor privado, por exemplo, permite a transferência de conhecimento e a criação de soluções inovadoras em áreas como saúde, educação e mobilidade urbana (Etzkowitz, 2008).
A governança é sem dúvida fator determinante para o sucesso dos ecossistemas de inovação. Ela garante a coordenação das ações entre os diversos atores, assegurando que os recursos sejam utilizados de forma eficiente e estratégica. Uma governança bem estruturada promove a colaboração, estimula a inovação e transforma territórios em centros de excelência tecnológica e econômica.
O futuro dos ecossistemas de inovação depende da capacidade de suas estruturas de governança se adaptarem rapidamente à s mudanças legais, tecnológicas e sociais, permitindo que a inovação floresça e traga benefÃcios tanto para as economias locais quanto para as comunidades globais.
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