Reformulação do Qualis transfere foco dos periódicos para os artigos
1 de novembro de 2024
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Novo sistema de avaliação das publicações científicas brasileiras da Capes entra em vigor em 2025
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) anunciou no início de outubro uma reformulação no Qualis, sistema de avaliação dos periódicos brasileiros. O intuito da mudança, segundo a entidade, é colocar o foco na classificação do artigo e não apenas na do veículo onde ele é publicado, como é feito hoje. Para o quadriênio 2025-2028, período em que a nova avaliação entrará em vigor, estão previstos três procedimentos de classificação dos artigos.
- Pelos indicadores bibliométricos do periódico (metodologia estatística que preserva os preceitos da metodologia atual);
- Por indicadores bibliométricos diretos do artigo (índice de citação e altimetria, para a análise quantitativa) e por critérios qualitativos do veículo (indexação, valorização de periódicos nacionais, acesso aberto, entre outros);
- Pela análise qualitativa do artigo, por meio de fatores e metodologias definidos pela área, que podem incluir análise de pertinência temática e avanço conceitual, por exemplo.
As áreas têm total autonomia para escolher o procedimento a ser utilizado. A publicação das fichas de avaliação e dos documentos orientadores detalhando os parâmetros de cada procedimento está prevista para março de 2025. Com a mudança, haverá uma reformulação significativa nos critérios de avaliação da produção acadêmica, refletindo em alterações nas expectativas e nas abordagens das pesquisas. A aposta da Capes com o novo formato do Qualis é promover uma mudança nos indicadores bibliométricos de classificação dos periódicos acadêmicos, com o intuito de aumentar a transparência e a abrangência da avaliação científica e de gerar mais alinhamento com as dinâmicas modernas de disseminação de conhecimento, modificações que já vinham sendo objeto de intenso debate na comunidade acadêmica (Hanzen, 2023).
Com isso, a entidade espera atenuar as críticas dos pesquisadores e dos periódicos acerca do modelo de avaliação atual (Schmidt, 2024). Os periódicos terão a oportunidade de aumentar sua visibilidade por meio de uma presença digital mais robusta, promovendo a interação e aumentando o impacto social das pesquisas publicadas. Isso cria um cenário promissor para expandir o alcance e a influência acadêmica dos trabalhos.
No entanto, conforme apresentado recentemente pela Revista Pesquisa Fapesp (2024), essa transição não vem sem desafios. Os periódicos precisarão enfrentar despesas adicionais e possíveis reestruturações, influenciando até mesmo na escolha de assuntos em alta de artigos para publicação, bem como aumentando a demanda de tempo para divulgação em massa dos artigos publicados, o que pode induzir os indicadores altimétricos a permanecerem elevados. Veja as principais mudanças implementadas com o novo Qualis no quadro ao lado.
Redefinição dos padrões
Em entrevista concedida à revista Pesquisa Fapesp, Sigmar de Mello Rode, presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec-Brasil), afirmou que área acadêmica como um todo poderá testemunhar uma redefinição dos padrões das publicações nacionais. Os periódicos que se adaptarem rapidamente às mudanças se tornarão mais influentes e capazes de competir com as revistas internacionais. Em contraste, aqueles que não conseguirem se alinhar às novas demandas correm o risco de perder visibilidade. Para Rode, à medida que os periódicos navegarem por essas mudanças, a importância de um planejamento cuidadoso vai se tornar evidente, pois, se um artigo for realmente de boa qualidade e bem divulgado, ele será citado, independentemente da revista em que for publicado.
Periódicos predatórios
Esse novo formato do Qualis busca também enfrentar o desafio dos periódicos predatórios. Para saber mais sobre esse tipo de publicação, acesse a coluna da Editora Pecege publicada recentemente sobre o tema (https://revistaes.com.br/colunas/escolha-do-periodico-escrita-e-submissao-o-periplo-da-publicacao-cientifica/). Ao adotar diretrizes mais rígidas e métricas de avaliação que priorizam a transparência, o impacto real e a confiabilidade, o sistema visa desincentivar práticas que comprometam a ética e a qualidade da pesquisa. Esse processo não apenas coloca uma pressão positiva sobre os periódicos para manterem padrões editoriais elevados, mas também fornece aos pesquisadores um guia mais claro para identificar plataformas respeitáveis para as suas submissões (Schimidt, 2024).
Ao tocar em tantas lacunas do processo de publicação, o novo Qualis promete um ambiente em que apenas periódicos que autentiquem suas credenciais e práticas editoriais responsáveis possam ser publicados, reduzindo assim o espaço para que publicações predatórias se beneficiem de autores desavisados.
É imperativo que os pesquisadores mantenham um olhar crítico durante o processo de escolha de onde publicar, assegurando-se de que o periódico escolhido esteja adequado aos novos parâmetros de avaliação. A pergunta que fica é: “A nova metodologia de avaliação poderá provocar distorções, isolando pesquisadores que estiverem distantes do mainstream”?
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